"O conhecimento enriquece a alma" (Santo Agostinho)

AGOSTINHO E A EDUCAÇÃO - UM DESAFIO

AGOSTINHO E A EDUCAÇÃO - UM DESAFIO
A sensibilidade, a ternura, a firmeza e a busca da fidelidade ao projeto de Deus marcam a vida e a prática deste ser humano que mergulhado no mistério divino buscou referencias concretas para animar sua vida. Todos os temas humanos estavam em sua pauta de reflexões. Sua alma inquieta e questionadora só encontrava em Deus o refugio que tanto desejava.

Olhar a trajetória deste pensador nos ajuda a descobrir a imensa teia complexa do pensamento humano. Uma vida marcada por encontros e desencontros, alegrias e frustrações, esperanças e desalentos dão um tom singular desta imensa moldura que é a sua vida.

Tendo como eixo a busca incansável pela verdade se deixou levar por veredas que encantaram seu coração, mas entorpeceu a sua alma. Por essa razão afirmava: "tarde te amei".

Agostinho considerou a filosofia como a maneira para encontrar parte da solução aos problemas de sua vida - a solução integral viria somente mais tarde através do cristianismo, por essa razão seu processo pessoal de conversão configura-se num elemento indispensável para compreensão de seu pensamento.

Sendo assim, nos deixou consubstanciadas em suas obras, verdades resultantes de um conhecimento intuitivo, por isso não há como testar o conhecimento agostiniano por meio de observações e experimentos. Suas verdades passam necessariamente pelo crivo do coração. Seu saber mistura-se com uma profunda busca da felicidade.

A relação entre a filosofia, que já o fascinava, e a religião, foi por ele utilizada como instrumento para construir seu pensamento em busca de uma prática.
As questões filosóficas que formam a base para a construção da chamada filosofia agostiniana são: o conhecimento, a sabedoria, e a amizade.

Enfatiza-se ainda a importância da linguagem porque Agostinho destaca a palavra como estímulo do homem que, ao descobrir a verdade sobre o que lhe for dito, aprende. E para tanto se tornam importantes o diálogo e a confiança explicitados pelas potencialidades do trabalho em comunidade.

Na educação a visão agostiniana contribui para o reconhecimento de que, paralelamente à conquista do domínio dos conteúdos, o aluno precisa ser orientado a relacionar esse conhecimento a uma realidade maior onde se torna indispensável a formação de valores que prezam a integração e a verdade.

Nesse contexto, o que se espera dos gestores e dos professores, não são apenas conhecimentos científicos, mas uma dose equilibrada de autoridade e sensatez, competência de quem sabe persuadir sem massificar e de quem sabe e se fazer respeitar enquanto ensina.

Nas realidades das atuais sociedades que cultuam o consumo, o papel humanizador da cultura deve ser reafirmado. Por essa razão, acreditamos que se faz necessário revisitar a experiência intelectual de Agostinho e redescobrir caminhos pedagógicos que integrem o falar e fazer, o ensinar e o criar posturas cidadãs.

Na escola agostiniana, a cultura não será consumida, mas assumida através de um processo que inclui a criatividade, o desafio, o progresso e a disciplina. Procura-se informar sim, mas inerente à informação formar cidadãos livres que compreendam o significado da democracia e da autoridade e capazes de estabelecer relações de reciprocidade e respeito.

O educador e a escola não assumem um papel massificador, ela é, ao mesmo tempo, profética e libertadora dos padrões de superficialidade que muitas vezes mascaram a nobre função do educador.

Para Agostinho os conhecimentos provem da Bíblia, ela é fonte e inspiração fundamental para aqueles que desejam o saber: "A primeira observação a ser feita quanto a essa busca e empresa é, como já dissemos, tomar conhecimento dos Livros santos. Se, a princípio, não se conseguir apreender o sentido todo, pelo menos fazer a leitura e confiar à memória as santas palavras" .

Ao longo de sua vida, Agostinho escreveu muitas obras acerca de como o ser humano deve se relacionar com Deus e de como chegar a felicidade plena através desta busca e desta aceitação ou não da manifestação Dele em cada um. Mas não só escreveu como também viveu esta busca, ao longo do livro "Confissões" o autor, dentre outros temas, apresenta sua história de vida e de como saiu dos pecados mundanos para seguir a Deus e alcançar a felicidade plena. Felicidade esta que reside no encontro subjetivo com Deus:

Então, como Vos hei de procurar, Senhor? Quando Vos procuro, meu Deus, busco a vida Feliz. Procurar-Vos-ei, para que a minha alma viva. O meu corpo vive da minha alma e esta vive de Vós. Como procurar, então a vida Feliz? Não a alcançarei enquanto não exclamar: basta, ei-la. Mas onde poderei dizer estas palavras? Como procurar essa felicidade? Como? Pela lembrança, como se a tivesse esquecido, e como se agora me recordasse de que a esqueci?

A teoria da iluminação que decorre da busca pela felicidade nos ajuda a entender e, ao mesmo tempo, nos remete a uma célebre citação sua "É necessário crer para compreender e compreender para crer" é o conhecimento racional reforçado pela fé.

Agostinho tinha razão então quando formulou toda a sua teoria na relação do ser humano com Deus, pois baseou esta sua teoria em dois pontos, a liberdade e o livre arbítrio.

O primeiro ponto, que é o da liberdade, prega que esta é a consciência moral, os mandamentos como moral cristã; só que esta liberdade humana é individual, isto quer dizer que cada ser humano é responsável por seus atos. O segundo ponto, que é o do livre-arbítrio, é também uma decisão própria e individual, só que esta ação está baseada na vontade, autonomia e desejo de cada ser humano; é o direito de escolha. Sendo assim, deve haver a vontade do sujeito de seguir este modelo ou não. Esta alternativa de alcançar a felicidade plena é apresentada aos alunos?

Poderemos então concluir que nem todos querem ser felizes porque há alguns que não querem uma vida feliz. Mas como "a carne combate contra o espírito e o espírito contra a carne, muitos não fazem o que querem", mas entregam-se àquilo que não podem fazer. Com isso se contentam, porque aquilo que não podem realizar, não o querem com a vontade quanta é necessária para o poderem fazer. Pergunto a todos se preferem encontrar a alegria na verdade ou na falsidade

Esta liberdade apresentada na teoria de Agostinho inclui a responsabilidade de cada individuo, escolhe-se o caminho a seguir, mas essa deve ser uma escolha racional. Cada um é responsável pelos seus atos, Deus proporcionou esta liberdade para que cada um escolhesse o seu caminho, mas a culpa por buscar a Deus por caminhos errôneos não é de Deus e sim do ser humano que não soube escolher corretamente o caminho. Deus não proporciona o mal e sim somente o bem, e nesta infinita bondade divina deu ao ser humano a liberdade de escolher o caminho a seguir.

A Filosofia tem aí um papel fundamental. Será que os professores tem consciência deste papel fundamental? Será que não estamos nos deixando levar por modismos e superficialidades? Eis o grande desafio.

Então, atualmente, o papel do professor em sala de aula está sendo de conduzir os alunos a vivência da felicidade? Quais as fontes de felicidade que nossos alunos e alunas saciam suas sedes?

Vivemos na era do homo gaudium. Entretanto, em nenhum momento da história da humanidade, o ser humano foi tão ansioso e angustiado.

Acreditamos que o grande desafio será o de construir um caminho com sentido, com direção.

Agostinho apresentou o seu exemplo de vida, para aqueles que tomassem conhecimento, tivessem o direito de seguir ou não os seus conselhos.

Os professores contribuem de alguma forma para que os seus alunos sigam este ou aquele caminho? 
Há uma liberdade de escolha?